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Animais fantásticos e outras histórias

  • Foto do escritor: kylquintela
    kylquintela
  • 5 de abr. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2022


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After Thomas (Um amigo inesperado) é baseado em uma história real e mostra o quanto o contato com animais de estimação pode ser benéfico para pessoas autistas.

Kyle é um autista nível 3 de suporte, que até os seis anos de idade demonstrava comprometimento grave na comunicação verbal e na interação social. Era uma criança extremamente sensível a mudanças e frequentemente apresentava crises perante situações que demandavam um grau acentuado de interação. Sua mãe, Nicola, era o principal alvo de seus acessos de raiva, enquanto o pai, Rob, tinha um trabalho em tempo integral e era prejudicado pelas noites mal dormidas. A relação do casal se desgasta com o tempo, mas Nic e Rob conseguem administrar a situação. Após várias leituras sobre TEA, Nic convence Rob a adotar um cachorro. É quando entra em cena o simpático, enérgico, bonitão e “caramelado” Golden Retriever, Thomas. A conexão entre Kyle e Thomas se estabelece de forma instantânea e ao longo da trama podemos ver o quanto o convívio com o animal acelera o desenvolvimento da criança, tanto no aprendizado, quanto na interação social. Kyle passa a demonstrar e talvez compreender as nuances das relações sociais através da sua amizade com o cachorro.

A história se passa em 1993, e é inspirada em Dale Gardner e seus pais Nuala e James. Ainda no início dos anos 1990, pouco se conhecia sobre o autismo. Posso dizer que, embora os estudos acerca da condição remontem a década de 1940, nos inícios dos anos 1990 o conhecimento sobre autismo ainda estava começando a “engatinhar”. Naquela época ainda havia muita desinformação sobre o autismo e, embora nos anos 1960 Leo Kanner (um dos principais responsáveis pelos estudos do autismo em crianças), que havia teorizado anos antes que o autismo era consequência do que passou a ser chamado de “mãe geladeira”, tenha se retratado desse tremendo equívoco, durante muito tempo esse mito permaneceu sendo associado a prováveis causas do autismo. Hoje sabemos que o autismo é uma condição genética e hereditária e vários estudos são conduzidos ao redor do mundo na tentativa de se estabelecer as reais causas para o desenvolvimento do transtorno. Portanto, o conceito de “mãe geladeira”(mãe emocionalmente distante do bebê como causa provável de autismo) é mito e não deve ser associado à condição. Nic/Nuala sofreu com essa acusação desnecessária e infundada por bastante tempo, devido à ignorância sobre o tema. Outro ponto que a história nos apresenta e que não passa de uma crença distorcida sobre os autistas e que foi validada há muitos anos por Hans Asperger, outro psiquiatra que estudou o autismo a partir dos anos 1940, é de que autistas não têm empatia, nem sentimentos. Ainda hoje, há pessoas que pensam que o autista é incapaz de desenvolver essas habilidades, portanto precisamos sempre combater esses mitos a respeito do autismo com informação. O fato de autistas frequentemente apresentarem algum grau de dificuldade para compreensão de emoções e sentimentos (tanto suas, como de terceiros), associado à dificuldade de comunicação e interação social, portanto de expressar essas sensações conforme a sociedade espera, pode resultar uma falsa impressão de que essas pessoas são desprovidas de sentimentos e empatia. O filme mostra como o contato com Thomas ajudou Kyle no desenvolvimento e manifestação de empatia e sentimentos e nos brinda com uma bela cena final carregada de emoção e esperança.

Em 2007, o jovem Dale Gardner, já com 18 anos, concedeu uma entrevista após o lançamento do filme, em que contou um pouco sobre a sua história e a importância de Thomas na sua vida, mas principalmente dos seus pais, e que tem planos para se tornar um professor da educação infantil, onde pretende trabalhar com crianças com deficiência. Dale tem o seu grupo de amigos, toca guitarra em uma banda de garagem, é bastante independente e funcional.

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