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Nenhum direito a menos

  • Foto do escritor: kylquintela
    kylquintela
  • 3 de abr. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2022


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Uma mãe solo de gêmeos autistas enfrenta o preconceito, as instituições e o que for necessário para incluir seus filhos na sociedade e torná-los jovens independentes, em Miracle Run (Missão especial).

Quando Corrine Morgan descobriu que os gêmeos de cinco anos, Steven e Phillip, eram autistas, foi tomada por um mix de emoções. Por um lado, finalmente compreendeu a gênese do comportamento atípico dos meninos (cuja indefinição a angustiava) e descobriu que havia alternativas terapêuticas com potencial para ajudar no desenvolvimento das crianças, por outro, vivenciou uma série de preconceitos que incrementaram os desafios que teria que enfrentar em prol de seus filhos. Primeiro, seu parceiro a abandona, depois a escola se recusa a manter os gêmeos e, por fim, perde seu emprego e fonte de renda.

Ainda assim, Corrine não desiste e busca alternativas para que seus filhos tenham acesso a educação e terapias de qualidade, acreditando que, ao contrário do que muitos julgavam, eles eram inteligentes e poderiam se tornar independentes. Após início do treinamento pedagógico especializado, Steven e Phillip têm seu desenvolvimento acelerado. Steven fala sua primeira palavra aos cinco anos e Phillip começa a substituir a ecolalia por uma comunicação verbal mais efetiva, à medida em que aprimoram suas habilidades sociais. Na sequência, vemos os garotos aos 14 anos ingressando no ensino médio e conquistando, aos poucos, sua independência. Nessa mesma época, evidenciam seus potenciais e se destacam entre os demais no xadrez, na música e nos esportes.

O filme é baseado na história real de Corrine e seus filhos, e também conta as histórias de muitos pais e mães, anônimos, que diariamente precisam enfrentar todo tipo de preconceito e toda forma de injustiça para fazer valer os direitos conquistados em prol dos autistas, até então.

Entretanto, "Hollywood" apresenta uma versão um pouco mais branda do drama da família Morgan. Em uma entrevista de 2009, Corrine conta que Phillip, adicionalmente ao autismo, tem Síndrome de Tourette (caracterizada por tiques motores, podendo apresentar coprolalia) e acessos de raiva, que eventualmente resultam em autoagressão e fazia uso de cerca de oito medicamentos diferentes para controle dos sintomas. Stephen, quando se sentia incomodado com algo, corria incontrolavelmente por horas a fio. Além dos gêmeos, Corrine teve um filho mais velho e uma filha mais nova, que não foram representados na adaptação. Passou a dedicar sua vida aos cuidados dos filhos e a uma fundação para estudos e conscientização do autismo, a Miracle Run Foundation, que, embora ao final do filme seja representada com o slogan equivocado "buscando a cura para o autismo", tem o propósito de angariar fundos para a causa e a construção de um lar estruturado que possa acolher integralmente adultos autistas.

Talvez, se a mãe dos meninos tivesse o direito à redução de sua jornada de trabalho, poderia se manter no mercado e ter tempo para cuidar do desenvolvimento dos gêmeos. Atualmente, no Brasil, pais de autistas – servidores públicos – têm direito a redução de até 50% de sua jornada de trabalho, para que possam se dedicar aos cuidados de seus filhos. Para isso, precisam de laudo médico e/ou da equipe multidisciplinar atestando que a presença dos pais é fundamental para o progresso nas terapias. E, quem sabe, se os gêmeos tivessem garantido seu direito à educação e pudessem permanecer na escola e com o suporte de um professor auxiliar, teriam tido melhores condições de desenvolver suas habilidades de comunicação e aprendizado (no entanto, ao invés disso, todo acesso a educação lhes foi negado com base em preconceito e ignorância). É direito de todo autista o acesso a educação regular e a um tutor especial, sempre que necessário. Questionar esses direitos é retrocesso. É preciso vigiar, fiscalizar e cobrar para que sejam colocados em prática. Estejamos atentos.

Nenhum direito a menos.



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